Pense nisso!

Você pode ter os professores mais dedicados, os pais que oferecem o maior apoio e as melhores escolas do mundo, e nada disso vai fazer diferença se você não assumir as suas responsabilidades."
Barack Obama

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Adolescentes do ano 2000

Ignácio de Loyola Brandão

Elas se telefonam, se bipam, marcam encontros e se reúnem nervosas diante da escrivaninha, cadernos e livros abertos e espalhados. Não devo dizer escrivaninha, é termo da minha adolescência, e entre a minha e a da minha filha se passaram 47 anos, o Brasil mudou, as palavras mudaram. No entanto, alguma coisa permanece imutável. Percebo ao passar pelo corredor, vendo-as no quarto, deitadas no chão, sentadas à escrivaninha, livros e cadernos compulsados, sofregamente. Não, não se diz caderno, e sim fichário. Elas estão ansiosas, inquietas. São dias de prova. O clima é o mesmo da minha adolescência. Na aula a atenção se dirigia pouco ao professor. A menos que fosse criativo e soubesse segurar a classe. Se houvesse, como hoje, jovens professores, as meninas gostariam mais. Por que nossos professores pareciam velhos e sisudos?
Nas vésperas das provas, os estoques de Pervitin esgotavam-se nas farmácias. Era preciso passar a noite acordado. Podíamos comprar Pervitin sem receita. Mas ninguém se viciava, pois era apenas para as provas. A ansiedade que essas meninas sentem é a mesma que sofríamos. Uma angústia que as deixa desatentas, irritadas. Viram e reviram páginas do livro, apostilas, pulam de um ponto ao outro, sem concentração. Como todos fizemos, menos os CDFs. Esses sabiam e sabem tudo. De que matéria orgânica são feitos? Chegava um momento, na véspera da prova, que cada um decidia aprender bem um único ponto e jogar na sorte. Era a Mega Sena educacional.
Há uma igualdade. A pouca vontade de estudar nessa idade. Santa preguiça. Divina ausência de concentração. Elas falam dos rapazes (em geral preferem os mais velhos, os da mesma idade são stracnados ou lesados; quer dizer bobocas; cada grupo tem sua gíria), telefonam, combinam a balada, escolhem um bar (na nova Faria Lima ou na Vila Madalena) e passam os olhos por um ponto. Está difícil, voltam a discutir uma tática, uma forma original de, talvez, colar. Mal sabem elas, nos seus 16 anos, que a estratégia de colar é arte aperfeiçoada por séculos. Afinal, a desonestidade progrediu e, no Brasil, elas estão cheias de exemplos de fraudes que dão certo. O professor nem desconfiará. Enfim, desistem, há nelas, felizmente, decência. O curioso dessas meninas que vão passar noites insones é que nenhuma recorre a estimulantes ou flash-power. Nem sequer ao café. Suportam, sem nada. Pela manhã, sairão para a prova com os olhos quase fechados de sono. Mas não se esquecem de passar meia hora experimentando saia, blusa, sandália, vários tons de batom. Querem estar bonitas. Como sofreriam se tivessem que usar uniforme. No IEBA, em Araraquara, o temível Alvarenga, inspetor de alunos, não deixava passar nem sapato desamarrado.
Há uma diferença entre essa geração e a minha. A atual não recorre aos poderes superiores. Nunca as vi rezando. Nem pondo sobre a mesa santinhos de Santo Expedito ou São Roque. Contam com elas mesmas. Na minha época, dia de exame final, era uma romaria à igreja. Findos os estudos, a vida seria leve. Como supor que o coração jamais descansa? Os santos recebiam com o olhar complacente as promessas que, sabiam, seriam esquecidas. As mães protestavam: sem estudo o santo não ajuda. Nossa lógica: estudando, dispensamos os santos! A igreja era poderosa, catalisadora! Hoje, precisa das aeróbicas do padre Marcelo. Ah, que bom, que mau! Chegamos ao ano 2000 e nada mudou! Mesmo tendo tudo mudado. A adolescência será sempre uma e indivisível! Sofredora e feliz. Assim, carregamos a vida toda um coração adolescente, dolorido um dia, sorridente no outro.

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"A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original."

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